terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Olinda Beer = caos beer

CAOS NO TRÂNSITO: PARTE I


Há tempos venho ensaiando ou tentando imaginar um ato de protesto capaz de chamar atenção de todos e principalmente da Prefeitura do Recife para o assunto “TRÂNSITO”. Na ausência de horas tranqüilas para escrever, achei no trânsito o momento propício para criação literária. Mas, não apenas roubo do trânsito os minutos necessários para reflexão, ao contrário, foi o trânsito que me fez voltar a escrever. Nos intermináveis minutos de peregrinação nas idas e voltas do trabalho, tenho a matéria-prima que me inspira: Crônicas ao volante.
Dito isso, me jogo em uma série de observações e anotações sobre tudo ao redor. No calor que preenche meu carro “mil”, sem ar-condicionado, perambulo meus pensamentos entre coletivos, motos, pessoas e sons, até alcançar aquele avião que voa baixinho chegando ou saindo do Aeroporto dos Guararapes. Lá de cima, imagino eu, o caos aqui embaixo vira uma bela paisagem urbana para passageiros sortudos que estão a mais de 3 mil pés de altitude, ouvindo suas canções em uma das estações de rádio do avião. Eles já passaram ou passarão o mesmo aperto que nós, pobres motoristas, presos em um trânsito barulhento, cruel, competitivo e atrapalhado.
Seria cômico se não fosse trágico, mas alguns agradecimentos são necessários e devem ser registrados. Em especial, aqueles que me motivaram diretamente a escrever. Hoje, falarei de um deles.
O dia em que A Avenida Agamenon Magalhães parou.
Era 27 de janeiro de 2008, O engarrafamento-monstro foi provocado pela anomalia musical chamada Olinda Beer. Não bastasse a péssima idéia de um evento como este, em pleno carnaval pernambucano, participei e sobrevivi ao maior engarrafamento nesses meus dezenove anos de trânsito recifense. A Avenida Agamenon Magalhães, na altura do Centro de Convenções simplesmente p-a-r-o-u. Não havia para onde ir. O engarrafamento que começou no giradouro do Complexo de Salgadinho teve seu apogeu exatamente em frente ao acesso desse evento medonho. Foram quase duas horas para conseguir passar da Fábrica Tacaruna. Aliás, eu não passei. Desisti e fui pela Cruz Cabugá, que não estava melhor, mas foi a única opção. O caos era formado por taxistas inescrupulosos que faziam fila tripla, passando por cambistas que invadiam a avenida com ingressos e abadas nas mãos, e “foliões” que forçavam a passagem na avenida, em meio aos veículos parados, com seus motoristas aterrorizados e paralisados diante do horror.
A narração é dramática, mas tenho certeza que todos que passaram por lá, podem acrescentar adjetivos não menos fortes a este meu quase-desabafo.
Em meio aquele tumulto maldito, tentei escapar, entrando no estacionamento do shopping e lá permanecer (a contragosto) até que o mundo novamente voltasse ao normal.
Quanta inocência. O estacionamento estava tão (ou mais) engarrafado que a rua, e o pior foi aceitar as batidinhas no meu veículo por parte daqueles animados foliões que iniciavam a festa batucando na lataria dos carros presos naquele manicômio itinerante. De uma entrada a outra, levei quase uma hora. Claro que nem desci do carro, esse foi o tempo que gastei procurando, em vão, uma vaga que me salvasse daquela histeria coletiva.
Onde estavam os responsáveis por tudo aquilo? Não havia qualquer manobra das Secretarias de Trânsito de Recife e Olinda para organizar aquela baderna. Os solitários guardas que se encontravam no local, limitavam-se a observar passivamente a confusão que só aumentava. Do jeito que estava, nem mil engenheiros da NASA resolveriam.
E com certeza, não adianta procurar os responsáveis, porque, naquele limite territorial, Recife e Olinda, certamente, vão se excluir mutuamente da responsabilidade.
Tentei buscar na mente um momento parecido com isso, mas não teve jeito. Finalmente quase QUATRO horas depois de sair de Maria Farinha, cheguei exausta ao meu apartamento, para ficar em silêncio e tentar tirar da minha cabeça aquele inferno que presenciei.
Desde esse dia, decidi falar ou escrever sobre o assunto, mas pela inexistência (por enquanto) de um grupo de S.A.T (Sofredores Anônimos do Trânsito), resolvi escrever, quem sabe, para alguém que esteja, nesse momento lendo seu jornal, parado no trânsito.
Esta história continua...